As receitas da TV por assinatura são relevantes para a Globo. Sempre foram e continuarão sendo. No entanto, o entendimento do que é a TV por assinatura é que muda. Hoje, diz Fernando Ramos, diretor executivo de parcerias estratégicas de distribuição da Globo, é difícil definir a fronteira entre TV paga e streaming. Independente do aspecto regulatório, a TV paga pode ser vista como algo muito maior do que o o Serviço de Acesso Condicionado (SeAC) individualmente. O executivo participou do Pay-TV Forum, realizado por TELA VIVA e TELETIME nestes dias 22 e 23 de agosto.
“Ao longo do tempo, é natural que ocorra uma evolução tecnológica, criando outras formas de acesso e os devices se multiplicam. É claro que essa mudança abre espaços. O que a Globo tem feito é ocupar estes espaços. Temos que estar disponíveis ao consumidor em todo lugar”, disse.
Segundo Ramos, a realidade da transição tecnológica e da mudança de hábito na forma de acessar conteúdo é inexorável e ocupar os espaços já mostra resultados. “No caso dos canais lineares, nos últimos 12 meses, tivemos uma reposição de 40% da base que foi perdida no SeAC. Isso mostra um caminho, uma perspectiva para o streaming”, disse. Ele lembra que, por um lado as programadoras passaram adotar estratégias B2C, paralelamente ao modelo tradicional da TV por assinatura, por outro, as operadoras do SeAC hoje oferecem os principais serviços de streaming OTT às suas bases de assinantes. “As barreiras vão cair ainda mais. Não acredito em um modelo segregado, onde cada um oferece um serviço” diz, apontando que não deve haver um caminho predominante.
A convergência, aponta o principal executivo de distribuição da Globo, fez com que as relações no mercado deixassem de ser de uma única via, com concorrentes de um lado e clientes do outro. Ele menciona as relações de parceria com empresas que, em outras frentes, são concorrentes. Esse tipo de relacionamento exigirá contratos mais robustos, evitando um confronto direto e frontal entre os players. “Traz mais necessidade atenção aos contratos, mas mais oportunidades”, diz.
Mais parceiros e mais modelos
Hoje a Globo atua em quatro pilares na área de parcerias de distribuição: grandes operadoras de telecom e ISPs, em modelos de parceria baseados em SeAC e streaming; agregadores digitais; TVs conectadas; empresas que têm grandes bases de clientes digitais, como bancos e varejistas.
As múltiplas frentes fazem com que os modelos de negócio e números de parceiros aumente exponencialmente. Segundo Ramos, a Globo tinha “20 e poucos parceiros” na distribuição no SeAC e “dois ou três” modelos de negócio. “Hoje temos uma dezena de modelos e quase 70 parceiros”, diz. E ainda há um demanda reprimida, uma vez que a empresa ainda não conseguiu atender todos os potenciais parceiros. “É um desafio grande acolher todas as demandas”, completa.
O diretor da Globo diz que aposta na coexistência de cada vez mais modelos e não em rupturas nos modelos existentes. Para ele, não deve haver uma mudança no modelo de compra de programação da TV paga e nem de comissão para parceiros do streaming. “A ruptura de um dos modelos pode trazer risco para a manutenção do que construímos até hoje”, diz, apostando em uma evolução natural que permitirá a melhora da equação econômica entre os players, mas sempre voltado para as demandas do consumidor.
Esta tendência de diversos modelos está na gênese do Globoplay, diz Fernando Ramos. Ele lembra que o streaming do maior grupo de mídia do país começou híbrido, com usuários logados em modelo gratuito, publicidade, SVOD e canais ao vivo por assinatura. “É uma visão muito consistente que outras empresas de mídia não tiveram, optando por uma ruptura ao retirar conteúdo da TV paga para deixá-los exclusivo de seus streamings. A gente continua a valorizar e investir nos canais fechados, na TV Globo e no Globoplay, acreditando na complementariedade dos três para ocupar os espaços que existem”, finaliza.
Fonte: Teletime