Chegando nesta semana ao mercado residencial brasileiro, a oferta de banda larga fixa sem fio (FWA) baseada em redes 5G deve desbloquear um “potencial gigantesco” de crescimento para operadoras do segmento – seja no atendimento de área não cobertas ou na substituição de tecnologias legadas
A avaliação é do vice-presidente de redes da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, Marcos Scheffer. Em entrevista ao TELETIME nesta quarta-feira, 2, o executivo da fornecedora (presente nas principais redes 5G do País) abordou oportunidades e barreiras que devem ser consideradas na escalada do novo meio de acesso para a banda larga.
“Temos indicações que o FWA deve crescer muito nos próximos anos, pois há um potencial gigantesco. Temos 46 milhões de residências com banda larga, de um total de [mais de] 71 milhões”, afirmou Scheffer. Ele também notou que mesmo em lares já cobertos, a fibra óptica só está disponível em 32 milhões de casas, com as demais atendidas por cabo, cobre ou outras tecnologias. “O FWA é a ferramenta adicional que a operadoras precisam para fechar essa diferença”.
Na visão do executivo da Ericsson, a trajetória da tecnologia em outros mercados corrobora a tese. Scheffer aponta como exemplo os Estados Unidos, onde 92% das adições líquidas (net adds) da banda larga em 2022 já teriam sido capturadas por ofertas de FWA – constrangendo sobretudo concorrentes de cabo.
Noruega, Japão e Austrália também foram consideradas operações de sucesso, ao passo que na Índia, a operadora Jio teria metas ambiciosas de atender até 100 milhões de clientes com a tecnologia nos próximos anos. Tal movimento global de maior escala teria impacto nos preços dos modems (CPEs) para FWA 5G, ajudando a reduzir barreira importante na adoção das ofertas por aqui.
“Já vemos fabricantes diminuindo os custos, com CPEs nos Estados Unidos entre US$ 200 e US$ 300. Mas conversando com fabricantes, inclusive de chipsets, a gente enxerga que nos próximos anos devemos ter produtos de US$ 150, US$ 120 e até US$ 80″, indicou o VP da Ericsson.
Evolução
A Claro foi a primeira operadora brasileira a oficializar a oferta de FWA 5G para o mercado residencial, em anúncio nesta quarta-feira (no caso, roteadores são adquiridos a parte, com preços entre R$ 799 e R$ 1.199). As demais teles também conduzem testes da tecnologia, além de empresas regionais como a Brisanet. Fora o mercado de varejo, o recurso já está sendo utilizado pelo segmento corporativo, nota a Ericsson.
Entre os primeiros demandantes estão bancos que estão utilizando a tecnologia na substituição de cabeamento físico de agências, inclusive em projetos já em curso. Implementações na indústria também começam a surgir, bem como pilotos em outras verticais. A própria Ericsson tem o FWA como elemento de projeto de rede privativa que envolve Vivo e o Hospital Albert Einstein, aponta Scheffer.
Diante do uso B2B, vale notar que cerca de 27% das mais de 100 operadoras globais que já atuam com FWA 5G teriam alguma espécie de serviço com capacidade garantida como parte das ofertas, aponta Marcos Scheffer. A abordagem, cara para usos no mercado corporativo, varia entre operadoras de serviço. No mercado residencial, abordagens best effort (melhor esforço, em tradução livre) também têm sido adotadas no globo.
Ao TELETIME, ofertas entre 100 Mbps e 500 Mbps foram citadas como velocidades de download comercializadas pelo FWA 5G ao redor do mundo (por aqui, a Claro está prometendo velocidades de até 1 Gbps e um modelo baseado em franquias). Uma pesquisa recente da GSA indicou 236,2 Mbps como velocidade média das ofertas do gênero no mundo.
De forma geral, a tendência é que a performance do FWA fique mais restrita em áreas densas, ainda que bem acima da banda larga fixa sem fio baseada em tecnologias anteriores (como 4G e 3G). Uma notícia boa para o Brasil é que as métricas dependem diretamente da disponibilidade de espectro, classificada pela Ericsson como satisfatória no País. Além do 3,5 GHz e do 2,3 GHz, as ondas milimétricas em 26 GHz são alternativas para o recurso no futuro.
Além de locais onde a cobertura por outros meios é complexa por questões geográficas, prédios antigos sem estrutura para receber redes de fibra também são encarados como possível nicho de mercado do FWA. Mesmo assim, Scheffer, da Ericsson, entende que a tecnologia sem fio e a óptica não serão concorrentes, mas complementares na estratégia das empresas de banda larga.
Fonte: Teletime