A Prysmian espera que medidas resultantes da investigação de dumping de empresas chinesas fornecedoras de fibra óptica comecem a valer já no primeiro semestre de 2025. Há hoje um processo reaberto em julho pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e que deve ser finalizado no final do próximo ano.

Em paralelo, no final da última semana, o Comitê Executivo de Gestão (Gecex), órgão ligado ao MDIC, aprovou o aumento da alíquota de importação de produtos de fibra óptica para 35% por um período de seis meses. A medida ocorreu no âmbito da Lista de Exceções de Bens de Informática e Telecomunicações e Bens de Capital (LEBIT/BK).

“Esses seis meses servem, de fato, como uma proteção imediata pela gravidade do tema. Porque o governo sabe dessa gravidade e do risco [que existia] de que a empresa não sobrevivesse até conseguir essa proteção de dumping. Mas a ideia é que no primeiro semestre a gente consiga essa proteção”, afirmou a diretora jurídica da companhia na América Latina, Inaiê Reis.

A medida aprovada na semana passada pode ser considerada drástica, pois não está restrita apenas às indústrias chinesas e vale para todos os importadores. O novo patamar do imposto é o teto máximo permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC), o que não existe em medidas anti-dumping, por exemplo. 

Competição inviável

De acordo com o CEO da Prysmian no Brasil, Emerson Tonon, os incentivos fiscais oferecidos pelo governo da China fazem com que as empresas do País ofereçam produtos de fibra a um preço em torno de 60% abaixo das concorrentes no mercado brasileiro. Com a matéria-prima respondendo por quase 80% dos custos de produção, a concorrência com esses players é considerada inviável.

“As proteções fizeram com que a China tivesse esse estoque e desovasse em países como os da América Latina, que não têm nenhuma medida [de proteção]”, disse o executivo, em coletiva de imprensa concedida nesta segunda-feira, 21. Segundo o CEO para o Brasil, um dos primeiros países da região a sofrer com a investida foi o México. 

Tonon ainda lembrou da aprovação de mecanismos como o Build America, Buy America (BABA), nos Estados Unidos, além de iniciativas na Europa e na Índia. “Com essas medidas, talvez a gente acaba se aproximando muito do que historicamente sempre foi. [Mas] obviamente, a gente nunca vai ter um custo para competir com o custo da China”, disse.

Fábrica continua em operação

Com a iniciativa do MDIC em taxar a importação de produtos de fibra em 35%, a Prysmian acredita que a perspectiva no mercado brasileiro passa a ser positiva. A empresa chegou a cogitar encerrar as atividades da fábrica localizada no município de Sorocaba (SP) – a única de fibra do grupo na América Latina. Entre o final do ano passado e início de 2024, a planta ficou com as atividades paralisadas durante três meses. 

“Falar que a gente não tem experiência em fazer ou que essa é uma planta que não é eficiente, não existe. Somos benchmark [referência] dentro do grupo com essa planta. Então, realmente a gente volta de novo a ser competitivo”, disse o CEO. “Não vamos praticar o mesmo preço deles [chineses], mas com certeza a gente volta para o jogo.”

Depois da reabertura das investigações de dumping, o grupo recebeu sinalizações positivas do Governo Federal a respeito de supostas irregularidades que afetam a competição de mercado. O próprio ministério disse ter encontrado “evidências sólidas” de tratamento diferenciado do setor por parte do governo da China. 

Segundo o CEO, a decisão sobre prosseguir com as atividades seria tomada justamente neste mês, período em que a empresa define o planejamento de gestão para o próximo ano. “Essa velocidade foi fundamental para a sobrevivência da nossa planta aqui no Brasil e na América Latina”, completou.

No entanto, o executivo reconhece que ainda há “incertezas” sobre qual será o volume de produção em Sorocaba (SP). Após o período da pandemia, em que as operadoras e provedores tiveram uma maior demanda em decorrência do home office, as fornecedoras viram uma redução nos pedidos com a normalização do mercado.

Para se ter ideia, a indústria da Prysmian produz 100 milhões de quilômetros de fibra por mês, ante uma capacidade mensal de 250 milhões de quilômetros. 

“[Devemos] calibrar a demanda versus a quantidade de pessoas que a gente tem. Hoje, a gente tem uma quantidade super reduzida e o volume está muito abaixo da nossa capacidade. Espero que a gente tenha um maior volume e [que possamos] calibrar a quantidade de pessoas para fazer esse volume”, disse Tonon.

Perspectiva de mercado

O CEO da Prysmian ainda abordou as perspectivas atuais de mercado. Para o executivo, o crescimento do setor deve passar pelo mix distinto de produtos de fibra óptica. Um exemplo da demanda atual são os cabos ASU, que não precisam de cabos adicionais com estruturas metálicas na instalação e contam com uma menor quantidade de fibra. 

Na outra ponta, estão cabos de maior valor agregado, que demandam mais fibra, para atender áreas como 5G e data centers. Dessa forma, a realidade é um crescimento menor no setor em comparação com o passado recente.

“Se a gente comparar com três anos atrás, em que tivemos um ‘boom’, acho a gente não vai chegar nesse nível nos próximos anos. Acho que a gente vai manter. É um crescimento numa dimensão diferente daquilo que foi no passado“, finalizou.

Fonte:

Teletime