As grandes plataformas não têm incentivo para fazer o gerenciamento racional do tráfego de dados pela Internet. Essa foi a declaração dada pelo diretor para América Latina da GSMA, Lucas Gallito. Em entrevista ao TELETIME, o executivo afirmou que a sustentabilidade das futuras redes de telecomunicações passa pela contribuição das big techs – que lucram, inclusive, com o “tráfego não solicitado” pelo usuário.
“Qual foi a última vez que você assistiu um vídeo no YouTube? Você vê anúncios antes do vídeo. Esse tráfego, você solicitou? Não. Eles estão monetizando? Sim. E eles estão pagando por isso? Não“, disse o diretor.
Para ele, a ausência de custos sobre o tráfego gerado pelas grandes empresas de tecnologia faz com que, para elas, enviar um vídeo em HD ou em 8K seja “a mesma coisa”. No entanto, para as redes, esse custo existe. Isso porque acaba sendo necessário maior capacidade e investimento por parte das teles para suportar essa demanda, segundo Gallito.
Segundo o diretor, faltam incentivos para que essas plataformas utilizem as redes de telecomunicações de forma mais racional. Como consequência, afirmou ele, essas companhias não limitam a quantidade de anúncios enviados nem se preocupam com a qualidade dos vídeos, mesmo que isso resulte em resoluções superiores às ideais para um dispositivo móvel.
Tráfego
Gallito também mencionou levantamento divulgado pela GSMA em outubro, que aponta que três agentes econômicos são responsáveis por 70% do tráfego móvel na América Latina: Meta, Google e TikTok.
De acordo com o diretor, a discussão sobre o fair share (ou “contribuição justa”) não tem a ver com a receita das operadoras. “A utilização dos recursos da rede é limitada. E quem paga por isso é a ‘Dona Rosa’. Hoje, é tráfego de vídeo, mas amanhã pode ser tráfego de realidade aumentada ou inteligência artificial“, disse.
Por outro lado, plataformas digitais são contrárias à ideia de uma possível contribuição pela infraestrutura de rede. Durante a tomada de subsídios feita pela Anatel este ano para debater o assunto, o argumento das empresas foi de que são os usuários finais que geram tráfego; e que elas não impõem conteúdo que vai ser acessado.
Modelo
A discussão sobre fair share ganhou fôlego recentemente em alguns países que tiveram casos considerados emblemáticos sobre o tema – como na Alemanha (Deutsche Telekom vs Meta) e Coreia do Sul (Netflix vs SK Telecom), por exemplo.
Apesar disso, não existe consenso sobre como seria o modelo dessa contribuição. No Brasil, operadoras do setor detalharam à Anatel uma proposta de cobrança para big techs que fariam “uso intensivo da rede”. A ideia enviada à agência abarcaria as plataformas que geram mais de 5% do tráfego em uma rede, além de obrigações de pactuação.
“A GSMA, enquanto organização global, reconhece que os países têm diferentes realidades, diferentes estruturas e diferentes regulações. Não temos uma proposta específica. Isso tem que vir de cada país”, disse Gallito.
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