Com a interdependência cada vez maior entre as redes de telecom e a infraestrutura de data centers, o Ministério das Comunicações (MCom) e Anatel estão preparando diagnósticos sobre a infraestrutura de processamento de dados no País. Em paralelo, empresas do setor têm reduzido cada vez mais as fronteiras entre as duas cadeias.
Durante o TELETIME Tec Redes & Infra, realizado em São Paulo nesta terça-feira, 26, o diretor de políticas do MCom, Juliano Stanzani, foi uma das vozes a indicar a necessidade de “em vez de pensar só em telecom, pensar no ecossistema digital como um todo” na formulação de políticas públicas, inclusive com identificação de lacunas de infraestrutura de dados no Brasil.
“Apesar de avanços, nossa abordagem [de País] é muito mais fragmentada do que devia”, reconheceu Stanzani, citando diferentes iniciativas do governo que perpassam a economia digital. No âmbito do próprio MCom, algo que está sendo gestado é o Política Nacional de Inclusão Digital (PNID), que deve avaliar também o papel dos data centers.
“Não dá para falar de inclusão digital só levando rede. No PNID, um próximo passo é o de construir propostas e indicar onde podemos chegar, com ferramentas e recursos. Porque temos fontes de recursos privados e públicos”, apontou Stanzani – relembrando possibilidades já disponíveis atualmente para investimentos em data centers.
Entre elas, o uso de recursos do Funttel no segmento, inaugurado por projeto de data center da Um Telecom em Pernambuco; a recente autorização para que outro fundo setorial – o Fust – possa ser aplicado na cadeia, com preferência para projetos no Norte e Nordeste; e o fato dos projetos de debêntures incentivadas aprovados pelo governo junto a operadoras terem diversos data centers previstos.
Quem também tem direcionado olhar mais atento aos data centers é a Anatel, em trabalho que também passa por outras infraestruturas críticas como os cabos submarinos. Superintendente de planejamento regulatório da Anatel, Nilo Pasquali também defendeu a necessidade de “políticas públicas mais gerais”, que integrem toda a cadeia digital.
A Anatel ainda está em fase “exploratória” sobre o que é possível na seara, aponta ele. “Muitos dos aspectos não nos cabem, mas por ser um insumo essencial para a prestação de telecom, precisamos entender como esse relacionamento funciona”, indicou Pasquali.
No caso da agência, o palco desse diagnóstico deve ser o novo Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (PERT), cuja atualização também está em gestação. O documento deve mapear data centers e cabos submarinos, inclusive com impulso do Conselho Diretor da Anatel, que tem integrantes bastante interessados na pauta.
Vale lembrar que, anets mesmo desse mapeamento, a Anatel já incluiu no acordo de migração da Oi para o regime de autorização investimentos em cabos submarinos e data centers pela V.tal (avalista do acordo), com investimentos na ordem de R$ 4 bilhões.
Empresas
Durante o próprio TELETIME Tec, a fronteira cada vez mais tênue entre telecom e data centers foi exemplificada por empresas como a Tecto Data Centers. A operação nasceu a partir de uma cisão da V.tal, justamente para concentrar os ativos de data center do grupo.
Segundo Rogério Piovesan, diretor de Engenharia e Construção da Tecto, o “spin off é a prova que BTG Pactual [controlador da operação] e a V.tal estão confiando fortemente no setor e querendo investir”. Isso porque há perspectiva de explosão da demanda por capacidade computacional, impulsionado sobretudo pela inteligência artificial (IA).
Hoje a Tecto possui data centers em operação em Fortaleza, Rio de Janeiro e Colômbia, além de planos de novos investimentos. Entre eles, aportes em cinco novos data centers que fazem parte do compromisso assumido por V.tal e Oi para adaptar o contrato de concessão da segunda.
As localidades dos novos sites ainda não são públicas, mas Nordeste, Sul, Centro-Oeste e o estado de São Paulo devem ser contemplados, indicou Piovesan. Para ele, o Brasil não pode deixar passar o “cavalo” da oportunidade de data centers, devendo solucionar gargalos existentes como a infraestrutura de transmissão de energia.
Outra empresa que vê mercado de centros de dados bem aquecido é a Elea Data Centers. A companhia de infraestrutura concentra nove sites no País, incluindo data centers que foram adquiridos da Oi, além de outros projetos em fase de planejamento.
Segundo o diretor de TI da Elea, Gustavo Pereira, a capacidade computacional exigida pela inteligência artificial e pela busca por menores latências devem ser grandes motivadores dos investimentos. “Hoje não estamos utilizando nem uma fração do que vai ser a demanda“, afirmou o executivo – também colocando o abastecimento energético como grande ponto de atenção para novos investimentos.
“O mercado de telecom conseguiu avançar bem, mas o mercado de energia ainda está um pouco aquém”, concordou André Ituassu, COO da IHS Towers. A empresa é outra que está apostando em data centers – neste caso, no formato “edge“, que mira a descentralização da infraestrutura computacional rumo às “bordas”. O foco da empresa, e também da sua “irmã” I-Systems, é justamente na oferta de infraestrutura que complemente e não compita com o que seus clientes principais (as operadoras) já possam oferecer.
Neste caso, a aposta passa pela instalação dos servidores junto aos pontos que o grupo (controlado pela empresa de torres IHS) já possui. A IHS/I-Systems se mostrou aberta à demanda por projetos do gênero que venha das operadoras de telecom clientes da companhia, indicou Ituassu.
Já no caso da operadora de banda larga Alloha Fibra, a avaliação do diretor de redes e operações, Ricardo Santos, é de que apenas a oferta de conectividade não basta mais para o setor de telecom.
Assim, a empresa ainda está explorando estratégias no segmento de data centers, já indicando que “soluções novas dentro de casa ou parcerias trazem a Alloha para dentro desse contexto”, segundo Santos. Hoje, a rede do grupo (em franco processo de modernização) conta com 1,5 mil pontos de presença, que podem fazer parte dessa equação.
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