Se depois de mais de uma década de convivência em campos opostos a TV paga e o streaming finalmente se casaram, a expectativa é que a TV 3.0, que marca a transição do modelo de TV aberta também para o universo OTT, também chegará a um ponto de convergência em relação às demais formas de distribuir e consumir TV. A avaliação aconteceu durante painel realizado na primeira edição do Streaming Academy, realizado pela Associação Brasileira de OTTs (ABOTTs).
“Durante mais de uma década os serviços de streaming eram nossos inimigos. Mas finalmente podemos dizer que hoje o streaming e a TV por assinatura se tornaram uma coisa só, parte de um único ecossistema”, diz Alessandro Maluf, diretor da Claro TV.
“Já há muito tempo que esse casamento não era uma questão de tecnologia. Era possível para a TV paga ter trazido o streaming para dentro muito antes, mas as estratégias das empresas e a visão de futuro não era essa”, disse Ricardo Miranda, diretor da Nextvision e diretor da ABOTTs, além de ex-presidente da Sky.
Hoje, existe no mundo a tendência entre as principais operadoras de TV paga de tratar os conteúdos de streaming como parte da oferta, no modelo de super bundles, e a Claro, no Brasil, não só vai no mesmo caminho como transita para um modelo em que o serviço de TV paga será totalmente pela Internet. “Hoje menos de 15% de nossas vendas são no modelo de TV por assinatura tradicional, ainda que o produto seja o mesmo, com os canais lineares, e mais os serviços de streaming”, diz Maluf.
Mas a TV aberta tem uma transição de modelos mais lenta, que promete chegar com a TV 3.0. Para Josemar Cruz, diretor da ABOTTs e co-fundador do ATSC Forum, a especificação da tecnologia permite, em tese, que as emissoras de TV possam ter as mesmas possibilidades tecnológicas dos serviços de streaming.
Para Roberto Franco, um dos mais experientes profissionais do mercado de TV brasileiro e hoje consultor na área de estratégias e tecnologias de mídia, a TV aberta inevitavelmente vai fazer uma transição que envolve parcerias dentro do universo do streaming. “A TV aberta ainda tem o poder da transmissão broadcast e do alcance, que o streaming ainda tem dificuldade de entregar, como ficou evidente na transmissão ao vivo da luta do Mike Tyson pela Netflix. Esse potencial vai ser aproveitado com a TV 3.0 porque as emissoras terão um canal poderoso de distribuição de eventos como esses. E as parcerias acontecerão, por uma questão de sobrevivência”, diz Franco.
O modelo que ele vislumbra é que, em determinados momentos, o conteúdo do streaming vai migrar para a rede aberta, em eventos ao vivo de grande alcance, e a TV aberta vai migrar para o streaming em momentos em que isso fizer sentido. “Não será mais uma coisa de nós e eles, um contra o outro. A TV é uma coisa só, que terá muitos meios de chegar ao espectador”, diz.
A questão , segundo os especialistas que participaram do debate, são os modelos, que permanecem ainda centrados em publicidade ou em assinatura. “A gente pode até ter alguma experiência com publicidade, mas não vejo no curto prazo nosso modelo saindo muito do modelo de assinatura”, diz Maluf.
Já a radiodifusão, prevê Roberto Franco, não poderá ficar em apenas um modelo e vai fatalmente explorar outras possibilidades. “O modelo da radiodifusão vai ser complementado na TV 3.0”. Ele acredita que essa mudança virá acompanhada de alguma alteração regulatória, muito em linha do que aconteceu com as empresas de telecomunicações, em que o conceito de Serviço de Valor Adicionado, originalmente criado como um complemento dos serviços de telefonia fixa, hoje contempla todos os serviços prestados sobre as redes de Internet, inclusive os serviços de vídeo.
Ricardo Miranda lembra que essa mudança já está acontecendo, se olharmos o que acontece nas transmissões de TV aberta via satélite. “A TV aberta se reinventou no satélite e adotou uma coisa que era típica de TV paga, que é o acesso condicionado. Isso tem consequências e abre possibilidades”, diz Miranda.
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