A liberação do uso externo (outdoor) da faixa de 6 GHz para serviços não licenciados como o WiFi 6E pode ajudar a desenvolver o ecossistema do espectro e, por fim, baratear os equipamentos para uso indoor também, na avaliação de conselheiros da Associação Brasileira de Internet (Abrint). Em painel durante o evento da entidade nesta quinta-feira, 25, eles voltaram a defender a manutenção do espectro, inclusive na futura Conferência Mundial de Radiocomunicação (WRC-23), da União Internacional de Telecomunicações (UIT).
Isso porque a Região 2, que corresponde às Américas, vem se padronizando na alocação da faixa de 6 GHz. Segundo a líder do conselho da Abrint, Cristiane Sanches, já são 62 países no mundo que destinaram toda a capacidade do espectro para o uso não licenciado. “Há todo um movimento forte da indústria”, afirmou ela, citando a homologação de 1.262 equipamentos compatíveis com a frequência e disponíveis no mercado. “Obviamente, o mercado vai adotando aos pouquinhos, a Anatel vai liberando regras para uso outdoor aos pouquinhos também, e os preços vão caindo, esperamos.”
Sanches lembra que o uso outdoor também está ganhando tração, e que na quarta-feira, 24, a WiFi Alliance (entidade composta por grandes fornecedores como Cisco, Intel e Broadcom) realizou com sucesso os testes do sistema de coordenação automática (AFC) com a agência reguladora norte-americana, a FCC. “O teste foi um sucesso absoluto, e a partir de agora isso vai ser acelerado, impactando positivamente o posicionamento brasileiro nas Américas”, declarou. A delegação brasileira, liderada pela Anatel, já se manifestou no sentido de não mudar essa destinação (“no change”) na WRC em Dubai, e esse posicionamento deverá ser adotado de forma regional “provavelmente na próxima reunião da Citel, no Canadá”.
Conselheiro da Abrint, Basílio Perez conta que a adoção do WiFi 6E indoor ainda não foi maior por conta justamente do custo dos equipamentos, mas que a adoção externa poderá mudar isso. “Acho que o espectro vai começar a se popularizar no outdoor. Na hora que a Anatel finalizar os trabalhos e liberar esse uso, os equipamentos vão ser mais adotados”, disse ele no painel. “Da mesma forma como foi com a faixa de 2,4 GHz, os provedores começaram a utilizar mais outdoor e depois se popularizou dentro de casa. Por isso estamos na torcida de a Anatel liberar esse uso”, conta. Vale notar, contudo, que a popularização do WiFi aconteceu também com a maior adoção de equipamentos móveis, seja o smartphone ou mesmo tablets e notebooks.
A aposta da Abrint na faixa de 6 GHz outdoor levou a entidade a apresentar ao ministro das Comunicações, Juscelino Filho, a aplicação durante o evento na quarta, 24. A associação também realizará uma demonstração de uso externo para a Anatel na realização da festa de São João em Campina Grande (PB).
Redes privativas
CEO da NLT, André Martins defende o modelo de uso do LTE para redes privativas. “Não consegui ver ainda ISPs abraçando esse mercado de maneira predominante“, afirma. O executivo diz que fechou “alguns contratos” para essas redes com empresas no Nordeste durante o evento de 2022 da Abrint, mas que espera agora haver mais interessados. Ele entende que a tecnologia deverá ajudar na última milha, inclusive gerando receitas para os provedores. Mas também defende o espectro não licenciado. “WiFi 6E é uma tecnologia habilitadora de borda. O ISP já conseguiu fazer um trabalho hercúleo, mas a última milha é complicada.”
Fonte: Teletime