O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) está liderando um financiamento para a construção de um novo cabo submarino que permitirá ligação internacional entre o Pará e a Europa. O projeto também prevê a expansão da infraestrutura digital pública do estado da região Norte.

A operação contratada pelo governo do Pará tem um valor total de US$ 144 milhões. Além do BID, que entrará com US$ 72 milhões, a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD, vinculada ao governo do país europeu) investirá US$ 43 milhões no projeto. Está prevista ainda contrapartida de US$ 28 milhões do governo local.

Metade dos recursos totais (US$ 72 milhões) serão empregados na construção de uma saída internacional de tráfego, a partir de ligação do Pará com o futuro trecho Fortaleza-Caiena do cabo europeu EllaLink. O sistema internacional que conecta Brasil e Portugal confirmou financiamento neste ano para um novo ramal (o Lum@Link) até a Guiana Francesa.

A partir deste trecho será possível a interligação do EllaLink com a cidade de Salinópolis, no nordeste paraense. O cabo para ligação entre os dois pontos (chamado por enquanto de Paraense Submarine Cable System) deve cobrir distância de aproximadamente 425 km. A rota final ainda não foi definida, mas pode trazer desafios consideráveis do ponto de vista ambiental.

Os recursos para o projeto também incluem a construção do ponto de aterrissagem do cabo em Salinópolis e mais 200 km de backbone terrestre entre a cidade e a capital Belém. Isso permitirá conexão do novo sistema ao programa federal Norte Conectado e com a infraestrutura pública da Empresa de Processamento de Dados do Estado do Pará (Prodepa), que será beneficiária do projeto.

Custos de operação e manutenção do cabo durante cinco anos e de contratação de capacidade do EllaLink pela Prodepa por 25 anos também está previstos projeto. Conforme apurou TELETIME, também está sendo estudado modelo que permita a exploração privada do cabo, para evitar ociosidade. Entrevistas com players já têm sido travadas por uma consultoria que está auxiliando na elaboração de um modelo de negócios.

Infraestrutura pública digital

A saída internacional de dados não é o único componente do projeto financiado pelo BID e pelo governo francês no Pará. Outros US$ 68 milhões da linha de crédito devem ser investidos na modernização da infraestrutura da própria Prodepa.

Neste caso, a intenção é financiar a expansão da rede regional de transmissão de dados da empresa de processamento paraense; aprimorar a infraestrutura do data center da estatal; expandir a rede de acesso para conectar agências públicas, escolas e comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas; e implementar um programa para promover habilidades digitais entre as populações, com prioridade para mulheres.

A estimativa é que a iniciativa permita a modernização da infraestrutura de Wi-Fi de cerca de 600 escolas públicas da região; a construção de hubs de de banda larga via satélites em cerca de 50 comunidades quilombolas, 150 vilas indígenas e 100 comunidades ribeirinhas; e também a construção de novos pontos de presença (PoPs) que poderão ser acessados por provedores locais. Os projetos devem ficar a cargo da Prodepa.

Ainda serão investidos outros US$ 4 milhões para melhorar as capacidades institucionais da estatal. Entre os investimentos estarão as áreas de gestão de programas, auditoria, monitoramento, relatórios e avaliação de processos; o financiamento de estudos ou futuras reformas necessárias para comercializar o excesso de capacidade de transmissão de dados para o setor privado no modo de atacado; e para obtenção de licenças necessárias para gestão institucional e de serviços.

Operação pioneira

Formalmente batizada como “Pará Mais Conectado: Conectividade significativa e sustentável para transformação digital do Pará”, está é a é a décima operação financiada pelo BID dentro da linha Brasil Mais Digital, aprovada em 2021 com cerca de US$ 1 bilhão disponíveis para projetos no País em um período de dez anos.

É também é a primeira operação individual da linha onde um governo subnacional financia infraestrutura de conectividade digital, nota o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Os dados apresentado pelo BID mostram que o Pará tem o segundo menor valor fixo densidade de banda larga, com 11,7 acessos por 100 habitantes. 74% dos municípios do estado têm menos de 15% de cobertura geográfica para banda larga fixa e 56% cobrem menos de 70% de sua população, resultando em uma lacuna de conectividade de 23% – três vezes maior do que os estados não-amazônicos.

Ainda segundo o levantamento do banco, cerca de 2 milhões de pessoas (23% da população) e 909 mil famílias (37% do total) ainda não têm acesso à banda larga.

Segundo fontes próximas ao governo do Estado, o projeto de expansão da conectividade no Pará também se insere no contexto do planejamento para a COP 30, que será realizada no estado em novembro de 2025, com ampla presença da comunidade internacional.

Fonte:

Teletime