A startup chinesa DeepSeek desenvolveu um modelo de inteligência artificial capaz de rivalizar com as grandes empresas americanas do setor, como a OpenAI e o Google, mas a um custo muito menor.

Essa novidade abalou os mercados financeiros globais, com as ações de empresas como a Nvidia, líder em chips para IA, caindo drasticamente nesta segunda-feira, 27 (com tombo de quase 17% na Nasdaq). O impacto no mercado de ações sugere que a valorização de empresas que dependem da venda de chips de alta performance para IA pode ser questionada.

Ao todo, empresas de tecnologia dos Estados Unidos perderem cerca de US$ 1 trilhão em valor de mercado, segundo a agência Bloomberg.

A partir da DeepSeek, a China também demonstra que pode competir com os Estados Unidos no desenvolvimento de tecnologias de ponta, já que conseguiu desenvolver um modelo de IA com desempenho similar aos dos concorrentes, mas utilizando hardware menos potente e custando uma fração do valor.

Isso leva a questionamentos também relacionados às restrições comerciais. As sanções dos EUA à China no setor de semicondutores podem estar sendo menos eficazes do que o esperado, avalia-se.

Ataque hacker

Contudo, após ganhar popularidade global, ataques contra a DeepSeek afetaram a operação da companhia nesta segunda-feira.

“Devido a ataques maliciosos de larga escala contra a DeepSeek, estamos temporariamente limitando novos registros para garantir a continuidade dos nossos serviços”, apontou um comunicado publicado pela empresa ao longo do dia. No momento da publicação deste texto, a limitação ainda estava em vigor.

O impacto DeepSeek: uma análise

Em análise no Boletim TELETIME, Samuel Possebon, questiona a efetividade de enormes investimentos que estão sendo feitos em inteligência artificial – como por exemplo o projeto Stargate anunciado pelo governo norte-americano de US$ 500 bilhões -, em um contexto em que mostra-se possível desenvolver por uma fração desse preço tecnologias muito próximas.

Possebon pontua que o caso da nova startup também serve como um excelente exemplo para o Brasil, “apontando a possibilidade de desenvolver tecnologias próprias de inteligência artificial e criar modelos nacionais, utilizando a mesma metodologia e técnicas adotadas pela DeepSeek”.

Essas práticas, que foram tornadas públicas tanto no que diz respeito aos algoritmos em código aberto quanto às metodologias empregadas, mostram um caminho promissor, em sua opinião.

Ele também pontua a necessidade de esclarecimento sobre as fontes de dados utilizadas para treinar o modelo da DeepSeek e os possíveis vieses ideológicos ou éticos. “Há dúvidas também sobre quais são as fontes de treinamento, mas aparentemente, são fontes bastante qualificadas, porque os resultados foram em alguns casos até superiores aos de tecnologias já estabelecidas”, destaca.

Embora ainda precisem ser validadas por outras empresas e pesquisadores, tudo indica que há espaço para o desenvolvimento e que os chineses já traçaram um “caminho das pedras” que pode ser seguido e adaptado.

Tratando de telecomunicações, é importante questionar também como essa tecnologia irá se integrar e dialogar com outras áreas nas quais a China já exerce liderança, como energia solar, 5G e o desenvolvimento de dispositivos móveis, salienta Possebon.

“A China tem se destacado oferecendo alternativas bastante interessantes em comparação com as tecnologias norte-americanas, mesmo diante das restrições impostas nos últimos anos pelos diferentes governos dos Estados Unidos”, finalizou.

Fonte:

Teletime